"Sombras da Noite" poderia ser superlegal, mas não é bem isso que acontece.
Saído de um caixão onde ficou preso por centenas de anos, o personagem de Johnny Depp não compreende o novo mundo
Johnny Depp interpreta um tipo excêntrico em um universo gótico e fantástico, no qual tragédia, humor e romance se misturam. Pois é, “Sombras da Noite” carrega diversos elementos da cultuada filmografia de Tim Burton e tinha tudo para ser, no mínimo, um interessante mais do mesmo. Ainda que parta de um conjunto promissor, contudo, o longa lançado nesta sexta-feira (22) é uma espécie de “menos do mesmo” (sim, o Colherada pede desculpas pela infame expressão).
O início desperta a curiosidade ao mostrar como Barnabas Collins, um rico e conquistador rapaz do fim do século 18, vê um triângulo amoroso arruinar seu promissor futuro: ao ser trocada por Josette (Bella Heathcote), a bela empregada Angelique (Eva Green) revela seus talentos como bruxa, provoca a morte da amada do protagonista e ainda evoca uma maldição ao transformá-lo em vampiro. Como vingança boa é desenvolvida em camadas, a vilã de coração partido atiça toda a cidade contra o sanguessuga e o prende em um caixão.
Nem os grandes atores de Sombras da Noite salvam o filme
Dois séculos depois, em plenos anos 70, desafortunados operários de uma obra desenterram o vampiro. Ele volta à mansão de sua família e descobre que seus descendentes, liderados pela matriarca Elizabeth (Michelle Pfeiffer, ótima no papel), se encontram em vertiginosa decadência por conta de Angelique, agora uma empresária de sucesso. Ao mesmo tempo em que quer ajudar os familiares, o estranho mocinho também pretende se vingar pelos 200 anos que passou enclausurado.Desse recomeço surgem os maiores e melhores momentos cômicos do filme, já que Barnabas não compreende e nem se encaixa neste novo mundo. Há excelentes sacadas, como a visão do símbolo do McDonald’s, o apreço do protagonista por citações do livro “Love Story” e seu tempinho ao lado de um grupo de hippies.
Personagens demais e falta de foco
“Sombras da Noite” é a adaptação cinematográfica da série de TV homônima produzida de 1966 a 1971. Em sua transposição, no entanto, a galeria de personagens que fazia sentido durante os diversos episódios apenas preenchem espaço – de maneira pouco convincente – enquanto a trama principal se resolve.
Johnny Depp e Eva Green. A vingança une esses dois
A história central, por sua vez, depende totalmente do talento de Depp, Eva Green e Michelle Pfeiffer para ofuscar os lugares comuns em que o roteiro se perde. As boas atuações não são o suficiente para salvar os minutos finais, quando o filme se esquece de sua porção cômica ou das pitadinhas de terror e acelera de forma confusa para investir em um drama romântico sem sal e em uma luta final tediosa. A decepção se completa com o escancarado gancho para uma sequência.
Das oito parcerias entre Johnny Depp e Tim Burton – responsáveis por “Edward Mãos de Tesoura”, “Ed Wood”, “Sweeney Todd” e “A Noiva Cadáver”, entre outros –, talvez essa seja a mais fraca, ainda que entretenha e bem em alguns momentos.
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